"-O meu campo de estudo é o conflito, ver por que razão os seres humanos se tratam uns aos outros com tanta violência. Sempre soubemos que essa violência tem origem no impulso que existe nos homens e que os leva a quererem controlar e dominar os outros, mas só há pouco começámos a estudar esse fenómeno do ponto de vista da consciência individual, ou seja, a partir de dentro. Pusémos a pergunta: o que se passa no íntimo de um ser humano que leva a querer controlar outro? E descobrimos que, quando um indivíduo se dirige a outro e entabula com ele uma conversa, uma de duas coisas pode resultar desse encontro: o indivíduo sai desse encontro sentindo-se forte ou fraco, consoante o que aconteceu em termos de interacção. - disse Reneau
Lancei-lhe um olhar perplexo e ele pareceu ficar ligeiramente atrapalhado por ter iniciado uma longa dissertacção sobre o assunto.
Pedi-lhe que continuasse.
- É por isso - retomou ele - que nós, os seres humanos, parecemos estar sempre a assumir atitude manipuladora. Independentemente dos pormenores concretos de cada situação ou do assunto em causa, preparamo-nos sempre para dizer o que for preciso, para fazer prevalecer o nosso ponto de vista. Cada um de nós procura uma maneira de controlar e dominar a conversa. Se o conseguirmos, se o nosso ponto de vista prevalecer, nesse caso, em vez de nos sentirmos fracos, receberemos um reforço psicológico.
...
"É hoje consensual, no meu campo de estudo, que toda esta problemática começa a aflorar ao nível da consciência. Começamos a reavaliar as nossas motivações. Estamos à procura de interagir. Creio que esta reavaliação é parte integrante da nova concepção do mundo que fala o Manuscrito."
A nossa conversa foi interrompida pela chegada de Wil.
- Já nos podem servir - disse ele.
Tomámos imediatamente o carreiro que conduzia ao rés do chão da casa, onde vivia aquela família. Atravessámos a sala de estar e entrámos na casa de jantar. Sobre a mesa encontravan-se um guisado fumegante, legumes e salada.
-Sentem-se, sentem-se. -dizia o proprietário.
Por detrás dele estava, de pé, uma senhora mais velha, que era aparentemente a mulher dele, e uma rapariga com cerca de 15 anos.
Ao pegar na cadeira para se sentar, Wil bateu sem querer com o seu braço num garfo que caiu com estardalhaço. O homem olhou furioso para a mulher, que por sua vez, falou com rudeza à jovem, que ainda não se mexera para ir buscar outro. Ela foi a correr à outra sala e voltou com um garfo, que entregou, hesitante a Wil.
Tinha as costas curvadas e a mão tremia-lhe um pouco. Os meus olhos encontraram os de Reneau, que estava do outro lado da mesa.
- Bom apetite. - disse o homem, estendendo-me um dos pratos.
...
........Profecia Celestina, James Redfield
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